23 de mai. de 2015

O conto Creme Verde saiu na revista Raimundo



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Creme verde
Conto de Tainá Pires
Sinto frio na barriga, vontade de fazer xixi nas calças, rir, de me esconder em baixo das cobertas. Às vezes, tudo junto. É que tem histórias arrepiantes. Pirralho, eu ouvia a vó Nena contando o dia em que “ele veio roubar o vestido vermelho da vizinha que estava pendurado no varal”, “comeu gabiroba e cresceu três metros”. Minha mãe contava outras, de cemitério. Fico com medo de colocar meu pé no chão, quando ouço uma história cabeluda.
Meu pai? desapareceu, se escafedeu. Essa é uma boa história, que nunca ouvi. E a senhora minha mãe ficou desesperada, precisando arrumar dinheiro. A mãe vai dar um jeito, meu filho!
A vizinha ficou comigo, comia todas as minhas bolachas, e em troca, lia o que eu queria. Acontece que nem sempre tinha bolacha. E ela resolveu logo arrumar o que fazer para não cuidar de mim. Não nasci para aguentar um piazinho fedelho.  Vai jogar futebol, seu moleque. Arrumou uns bicos de faxineira e zarpou.
Fui pra creche. Toda semana a mãe tinha que tirar as lêndeas... Apanhei dos barrigudos e fiquei com medo de comer, porque eles viravam o meu prato. Eu chorava e ainda levava bronca das tias.
Deu certo. Minha mãe falou que eu tava emagrecendo, peguei perebas, tive caganeiras.
Aí é que entra o processo de desenvolvimento de meus superpoderes.
Ufa, a angústia fez a minha mãe comprar umas histórias prontas... Com bastante desenho. Deixava comida pronta em cima da mesa e eu ajoelhava para comer direito sozinho em casa.
Agora, estou na escola. Ninguém da bola pra mim. E daí? Leio, porque aqui tem biblioteca. Só tenho medo quando bate o sinal. Eu volto sozinho pra casa e eles me assombram.
Como é véspera do feriado, a professora passou uma tarefa. Só que não era  qualquer tarefa, era sobre os melhores personagens. Ela mostrou alguns quadrinhos que trouxe numa caixa. Vamos falar de gibis. Coloquei as mãos na frente dos olhos. Não queria mais ver, e nem ouvir aquelas besteiras. Descobri que ela é muito chata e burra. Criei coragem e ergui a mão para explicar que, além da Turma da Mônica tinha o Wolverine, que não  era monstro, que teve nova memória implantadas pelos militares, e seu esqueleto de adamantium foi inserido, mas ninguém me olharam enquanto eu falava.
Para a aula, depois do feriado, vocês vão me entregar o trabalho de invenção, com os personagens que vocês conhecem ou vão criar novos, desenhar ou pegar de revistas. E escrevam uma história com as ideias de vocês. Pelo menos uma vez ela teve uma ideia genial.
Passei o feriado desenhando os meus personagem. Ainda bem que eles estão aqui dentro de mim há tempos. Agora é a hora de me verem.
Pronto, terminei a façanha O Aventureiro, primeiro episódio. É o quê e como ele sobreviveu comendo só verduras. Ah! está sozinho no mundo e fez amizade com um macaco.
Pedi para meu tio encadernar. Ele tem orgulho de mim.
Finalmente, chegou o dia da entrega.  Todos iriam me ver na sala. Estava pronto para entrar para a história. E que realmente conhecido. A professora corrigiu na mesma hora. Enquanto jogávamos futebol ela ficou passando a caneta nos trabalhos. Deu dez para quase todos os desenhos mal recorados do Cascão. No meu, rabiscou na página mesmo. ‘Seu texto é copiativo, mas valeu’. Nota 6,0. Antes, ela perguntou aos colegas fodões da sala: Isso aqui foi copiado fielmente, né? Claro professora, eu tenho o segundo e terceiro episódios.
Foi naquela hora que completei o desenvolvimento de meus poderes. Com minhas garras afiadas, salvei minha história, subi em cima da mesa e comecei a me defender desses seres do mal.  
 



Outono 2015 / 26 textos para serem lidos no transporte público
Tainá Pires
Com 33 anos de idade, curitibana que gosta mais do mato do que do asfalto. Passei a infância entre a bicicleta, bolinha de gude, escalando árvores, colhendo uvas, brincando com os bichos, com os livros. Entre Duas Antas(colônia dos avós), com polenta, leite quente tirado na hora, e na Capital paranaense, expectadora de cinema com pipoca. Escrevia a redação da escola apaixonada pelas histórias que lia e ouvia. Sempre gostei deste mundo, misturando o real com o imaginário. Formei-me em letras-português, fiz especialização em leitura de múltiplas linguagens, pesquisa PIBIC/PROPQ sobre a relação Literatura e História, trabalhei na edição revisada e comparada do Catatau, do Paulo Leminski, e nos últimos anos venho libertando a minha imaginação literária com publicações e reconhecimentos. E, ainda hoje, faço roteiros de animação, e trabalho como redatora oficial e revisora de textos diversos.




  
Raimundo • Nova literatura brasileira
Quem somos? A Raimundo abre as portas para novos autores e atores da literatura brasileira, entre contistas, poetas, tradutores e ensaístas. Criada em 2014 com proposta de ser uma revista de edição trimestral, pretende acolher obras que pouco encontraram abrigo nos ainda apertados espaços do mundo editorial brasileiro.
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2 de set. de 2014

  A greve

Cheguei dois minutos pra fechar o portão. Demorei tanto colocando duas blusas de lã e uma jaqueta e agora vou ter que tirar. E estão molhadas de suor. O duro é que tenho que esperar cantar para depois entrar em fila na sala. Está sol.
Eu fico na penúltima posição da fila para cantar o hino, bom é que as professores e a diretora ficam lá em cima e têm dificuldades para ouvir a voz da gente. Eu só fico abrindo a boca e olhando pras pernas delas. E a Vera, sargentona, fica encarando um por um com olhar fulminante para conferir se estão cantando.
Enfim, entramos em sala. A Prof.ª Valquíria pergunta quem quer rodar o mimeografo. Eu levanto a mão.
Mais Eu. Eu. Eu. Eu... e a torcida do Flamengo toda.
A mais esperta gritou o próprio nome, Angela, Angela, Angela. Entregou o estêncil. Ai ai, é muito bom aquele cheirinho de álcool, sair da sala e andar pela escola pra chegar à coordenação. Enquanto isso Val faz a chamada.
Gosto de quando eu posso mostrar o meu caderno na mesa dela. Mas tenho vergonha. Medo de tropeçar. Todo mundo vai pensar que estou apaixonado. Ela tão é cheirosa. A sua mão suave e os olhos que me paralisam só de lembrar.  






A gente sabia que estavam com os salários atrasados. E não sabíamos o que falar nessas horas. Um imbecil com cara de vácuo tentou gralhar. Ouvi baixinho “eu não tenho nada a ver com isso”, mas a Tonhão reagiu antes estrangulando o cara com a exalação do seu cheiro. Cale a boca!   
Ficamos livres depois do recreio. Ouvimos tudo o que a professora estava sofrendo. Contou a história da submissão que a burguesia faz com o proletariado. Qualquer dia, vão ter que fazer uma cesta básica para nós (professores).  
Saímos jogando a mala na escada para o jogo de caçador. Dividimos o time. Naquela hora já estava com vontade de tirar o tênis e a camiseta de tão calor.
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A professora Valquíria foi para a greve. Nós é que não, porque a diretora alertou que ia ser pesado. Não tinha entendido. Como assim pesado?
No outro dia, não teve aula e nos outros e outros também não.
Pisoteada pelo cavalo, não voltou para corrigir as palavras cruzadas. Não voltou para dar visto e aplicar prova. Não voltou
Não quero nunca mais voltar pra lá naquele colégio. O que era mesmo o tal protelário? Eu não prestei muito a atenção. Ou o governador ficou com raiva porque o chamam de enrustido? E isso é o que mesmo?

  

13 de abr. de 2014

Colineares


TRADUZIR-SE


Ferreira Gullar


Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
















METADE
Oswaldo Montenegro

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.



28 de jan. de 2014



Hoje faz um ano que comecei o tratamento para tratar uma inflamação no lobo esquerdo, próximo ao central do cerebelo. Vocês, meus amigos queridos, minha família, meus colegas de trabalho, colégio, faculdade, professores e pessoas que eu nem conhecia rezaram e me ajudaram, de diversas formas na minha recuperação. Eu agradeço a Deus diariamente e peço para ele abençoar cada um de vocês.
Quando iniciei em 28/01/2013 a rádio e a quimioterapia, quem lhes escrevia em meu nome era a minha mãe, pois eu não conseguia fazer muitos movimentos, nem mesmo falar.  Ah! E eu só pude iniciar o tratamento porque todos vocês me ajudaram financeiramente também. Consegui pagar 2 dias de Temodal, droga específica para a região cerebral afetada pela inflamação (Na época, pagamos 1700 reais para dois dias), e quase metade das sessões de rádio (24mil) graças à essa ajuda.
Depois de iniciarmos o tratamento, o juiz determinou que o Estado do Paraná, ao qual eu sou funcionária, cumprisse a lei e zelasse pela minha saúde. E devo isso a um Advogado maravilhoso que também fez a ação por amor, sem cobrar um centavo. 
 É claro que, na realidade, o Excelentíssimo Governador do Paraná não agiu/age assim. Vide olharmos que ele não paga nem o combustível das viaturas da Polícia Militar, que dirá fornecer medicamentos para os pacientes impossibilitados numa cama (nós ficamos calados mesmo). Dinheiro ele sempre teve, pois é um repasse do Federal. Vai ver, assim como aplicaram o dinheiro do Estádio da Copa, ele (o excelentíssimo) deve de ter aplicado meu tratamento em uma reserva mais lucrativa. Cheguei a ficar 40 dias sem receber o medicamento Temodal.
Para não dizer que não falei de flores, já estou muito melhor, como vocês veem/leem, e estou me comunicando oralmente e escrevendo também. Andando feliz. Até de ônibus eu já fui e voltei.
Ainda tomo o remédio da químio e não há previsão de quando parar. Mas estou empenhada em ser e estar feliz e poder retribuir nessa corrente do bem, nessa ciranda enorme de amor que tornou a minha vida.

Obrigada.
Recebam um abraço apertado e uma gratidão eterna!


ps.: desculpem os erros de português, concordâncias e repetições.   


15 de out. de 2013

Notícias



Não abandonei o blog. É que eu estou concentrada em escrever, mas/mais direcionado. É para o público infanto-juvenil. Tenho me concentrado nos vários personagens que guardei em minha cachola durante anos. De repente, eles começaram a bater na porta para sair.   
Também estou lendo. Marina Colasanti, Lygia Bojunga Nunes, Torero...
Se puderem me indicar mais, eu agradeço.

Abraços 


1 de jul. de 2013

A saga de funcionária pública continua...



Estou me tratando de um inflamação cerebral, fazendo quimioterapia. Já falei numa crônica sobre a burocracia para garantir meus direitos de afastamento do trabalho? Tinha uma perícia no começo do ano, na DIMES, Paraná Previdência, fui acompanhada de minha tia e minha mãe que são funcionárias públicas. Estacionamos na sombra. Como estou com a imunidade baixa, minha mãe subiu para conseguir prioridade de atendimento (aquilo parece pior do que SUS). Só que, enquanto esperávamos no carro, veio um segurança e falou para nos retiramos dali, sem a menor educação. Então explicamos que a vaga de prioritária, justamente para isso, atender os deficientes. E o cara começou a gritar. Eu e minha tia demos risada e continuamos ali. Só que veio mais um segurança e falou que era para sairmos dali. Minha tia falou que não sairia, até porque tinha mais quatro vagas vazias para deficiente. E veio o quarto segurança, chefe de todos. Começamos a ficar assustadas e eles ficharam o carro sob pressão, já estavam em quatro. Fechamos os vidros e começamos a sair. Eu fiquei bem assustada. Foi difícil para minha mãe nos achar, pois tivemos que garimpar um lugar bem longe dali. E até agora ficamos nos perguntando o por que de tudo aquilo? Porque esse tratamento?
Hoje, tive que ir pela “décima vez” fazer a perícia. Com a imunidade baixa, tive que ficar na DIMES e foi horrível: uma fila enorme de pessoas doentes esperando ser atendidas, e uma sujeira insuportável. Chão imundo, paredes também, velhas e com gosmas escorrendo. Bancos velhos, sem limpar. Na sala da médica, a mesma coisa, paredes imundas, uma balança também suja que parecia da década de 1940 e não dava para usar.
Quero saber, que tratamento é este? Porque trabalhamos e quando mais precisamos, somos tratados como porcos sujos? Não há nenhum respeito com os funcionários do Estado do Paraná.


O que precisamos fazer para conquistar nosso direito?


16 de jun. de 2013






Escrevo, segredo
Traduzindo
literalmente a palavra
táina, em russo para o português

Somente assim
você transforma
poesia em mistério

Tainá, o sol raiando
Enredo tupinambá
Esconderijo da criação












29 de mai. de 2013

1 de abr. de 2013

Sem título





Brasil feijoada
Preto, branco, japonês,
mulatinho, rajadinho
Feijão de todo o jeito

Viradinho, remexido
bolinho com misturas mil
Praticamente o coletivo

Promessa rasa de sal
alho e a cebola 
até a douradura





25 de mar. de 2013

Por Romulo Kulka, versos reflexivos




Amanheceu e estou aqui
 
Prevendo como será a manhã
 
Rogando para que tudo seja mais são
 
Tentando decifrar siglas que não entendo o que significam
 
Deixando que o tempo leve-me para mais uma caminhada fugaz
 
Esquecendo-me que tudo o que fiz ontem, pode ser lição do que há porvir
 
Estou perdido num mundo fantástico que nem eu mesmo consigo entender
 
Aplaudindo o amanhecer a cada novo dia, sorrindo em paz
 
Obstruindo as frestas que me fazem chorar em vão
 
Admirando o quão bárbara é a ilusão
 
Forcejando entender o amanhã

Amanheceu e estou aqui




7 de mar. de 2013

Donos do mundo?


Existem atitudes nesse mundo urbano que correm o virar comum. Tive que ir segunda-feira fazer perícia, na DIMES, Paraná Previdência. Fui acompanhada de minha tia e minha mãe que são funcionárias públicas. Estacionamos na sombra. Como estou com a imunidade baixa, minha mãe subiu para conseguir prioridade de atendimento (aquilo parece pior do que SUS). Só que, enquanto esperávamos no carro, veio um segurança e falou para nos retiramos dali, sem a menor educação. Então explicamos que a vaga de prioridade era justamente para isso, atender os deficientes. E o cara começou a gritar. Eu e minha tia demos risada e continuamos ali. Só que veio mais um segurança e falou que era para sairmos dali. Minha tia falou que não sairia, até porque tinha mais quatro vagas vazias para deficiente. E veio o quarto segurança, chefe de todos. Começamos a ficar assustadas e eles ficharam o carro sob pressão, já estavam em quatro. Fechamos os vidros e começamos a sair. Eu fiquei bem assustada. Foi difícil para minha mãe nos achar, pois tivemos que garimpar um lugar bem longe dali. E até agora ficamos nos perguntando o por que de tudo aquilo? Por que não tínhamos a plaquinha de deficiente? Porque o Beto Richa estava lá? Ou o Arns? Por que estou dando prejuízo pro Estado? Ou simplesmente porque o ser humano está perdendo seus valores?

Assinado, Funcionária Pública

28 de dez. de 2012

Resultado





Soube do resultado pela manhã. É um glioma de grau 3. O de 2007 era grau 2. Terei que fazer químio e rádio. Minha preocupação é: Donde arrumarei a grana para isso?
...
Que se dane a grana!
Sinceramente, a minha vontade é me enfiar num buraco, que nem tatu. E ficar lá dentro só com o olho pra fora, enxergar todo mundo sem que me vejam.
Agora a tarde, senti várias vontades loucas como sair correndo como o Forrest Gunp. Tomar aquele porre de vinho com um queijo caríssimo e ficar caída nos degraus da entrada (não sei porque, mas não tenho degraus na minha casa). Mandar todo o Mundo tomar no cu. Fazer uma cirurgia plástica facial e mudar de personalidade. Mas essa última eu achei ridícula e desisti de tudo.
O que eu não quero é falar com meus amigos. Não sei porquê, acho no fundo que estou com muito medo e não quero ninguém saiba que eu sou fraca. Que no fundo eu sinto uma vontade imensa de pedir colo. Mas nem que seja para dizer que eu ganhei na mega sena da virada, com o travesseiro sob cabeça eu grito “volte amanhã”.


26 de dez. de 2012



 Tédio


Acamada sem saber o porquê
Olhar o nada
Sem esperar para que

O que

Vácuo no intervalo de coisa alguma
Imersa no vazio
Flutuo perdida
Podendo ser sugada para qualquer canto




11 de dez. de 2012

Relatório de Internamento





Estou numa cama de hospital. Diferente de há cinco anos, estou bem, tranquila, com vários livros e o notebook que a Renata me emprestou.  Estava precisando de um tempo, diminuir a correria, limpar a casa, cozinhar, fazer compras e trabalhar. Pelo menos pensar assim consola. Sempre me lembro da crônica do Rubem Braga em que fala que só estudaria a gramática quando estivesse na cama de um hospital. Aqui estou eu. E nem assim me animo a estudar as normas da língua patrão. Trouxe Neruda e mais uns amigos Balzac e Flaubert, umas revistas.
Da janela, vejo apenas árvores gigantes, sem nenhuma construção. Isso me acalma. Ontem me deu uma vontade de um sorvete e desci de pijama no café, que é chique. Fui o centro das atenções. E olha que meu pijama era comportado.
A animação veio com o Dr. Alexandre... ai ai, eu poderia descrever um tratado sobre ele. Só preciso estudar um pouco mais. Ele é lindo. Chegou com um sorriso aberto e já me contaminou. Disse que veio em nome do Dr. Ramina (o bambambam da neuro). Pensei comigo, esse veio completo, simpático e comunicativo. Só aparece uma vez por dia, mas já anima. E me lembra o Barden. E pega no meu pé, literalmente.

Divido hoje o quarto com uma recém-operada. Estou ajudando a cuidar dela, porque nem chamar a enfermeira ela consegue.

Quarto dia de internamento. É domingo pela manhã. Comecei com tédio. Estou sozinha. As minhas visitas vieram às 16h, no ápice do meu vazio. Acabou. São 20h e estou sozinha.
Vem um enfermeiro tirar minha pressão. Eu quero algo salgado, por favor. Não tem como, está tudo fechado. Nem um salzinho pra por embaixo da língua? Nada. Enquanto ele verifica os batimentos, pensei numa pizza. Era isso que eu queria. Minha boca começou a salivar. Olho para ele com a minha tradicional cara de cachorro pedinte. Hum, você pode comer? Claro, estou aqui só para investigar a cabeça. Pede que eu busco lá em baixo; você o tem o endereço? Não. Vou trazer aqui. Procurei na internet e liguei. Esqueci que estou tomando muitos medicamentos e não consegui ler a ordem do número de primeira. Gelei, pensei que ia acabar os créditos. Falei que estava cansada do meu plantão, ela entendeu.
50 minutos depois veio a mais desejada comida desse ano. Era a menor embalagem que eu já tinha visto de pizza. O cheiro era maravilhoso. Depois de dias ao saber de doente com sopa sem sal. Quando eu abri foi uma admiração tão estonteante quanto que se estivesse diante uma obra de Picasso. Fiquei alguns minutos admirando e abrindo o refrigerante. Tinha folha de manjericão fresco e um lindo tomate em rodas. Me senti na Vila Mariano a em São Paulo.

Essa máquina de ressonância que não vem. Já é terça-feira.
Dr. Javier Bardem aparece às 6h50. Mas como dormi melhor, só acordei às 5h30 com a enfermeira me enchendo e não consegui mais dormi, resolvi escrever. Ele chegou e eu jogando as palavras para fora. Conversamos sobre tudo, do meu caso é claro. Veio depois do almoço. Conversamos sobre a nossa profissão. Ele é neurocirurgião. Voltou há pouco. Acho que faremos a biopsia quinta-feira. Finalmente vou para casa. Chega de ficar sem lavar a louça e ir ao mercado. Virei visitá-lo com frequência! 


29 de abr. de 2012


Para meus amigos, blogueiros, poetas que leem o Amberé Akangatu, saibam que estou escrava do sistema, mas mantenho a poesia sempre viva e em breve publicarei.

Deixo aberto o blog para quem tiver interesse, nele postar.

Abraços,
Mente de Lagartixa

3 de fev. de 2012

Susto


no meu sonho
madrugada

palavras atrasadas
lacunas se entrelaçam
ideias aleatórias

a voz ressoa
até desaparecer
mudaram os sonhos


28 de jan. de 2012

Deus e as lágrimas mundiais

Por Romulo Kulka


Mundo: como podemos designá-lo? Talvez seja fácil de responder: redondo, aguado, terreno, azul... Infinitas são as denominações e características para o nosso tão adorado planeta. Mas, será que ele ainda é o que tornamos a ver a cada novo dia de vida, quando acordamos e olhamos pela janela e o vemos com seu céu cinza, sua temperatura amena, suas cores tornando-se frágeis a cada passar de estação. Podemos vê-lo de diversas formas, mas há um SER que o vê como um todo, não lhe dando características visíveis a olho nu, mas invisíveis ao sentimento humano: DEUS! Alguém já parou pra pensar, o quão DEUS está triste com os seres que ele colocou no mundo?
Ele nos colocou aqui para amarmos, respeitarmos e unirmos, uns aos outros, mas dentre tantos 'mos' que julgamos necessários para a evolução humana há sempre um ‘porém’ restituído de sua real classificação: O que está acontecendo afinal? Os seres que deveriam evoluir, pelo contrário, estão definhando em sua própria desilusão, descrença e estão acabando com todas as SUAS ideologias, SEUS credos, SUAS expectativas! Será que todos estes desastres naturais, não sejam a forma como ELE descobriu de fazer-nos abrir os olhos para a realidade e fazer algo para melhorar? Terremotos, furacões, inundações, nevascas, deslizamentos, tudo isso e mais um pouco são as feridas que o ser humano abriu em nosso planeta e que para fechá-las é demorado e cansativo, árduo e desgastante. Mas, sempre há uma saída e isso, nada mais são do que sinais de que podemos e devemos correr atrás do tempo perdido e recuperá-lo, a fim de vivermos num ambiente digno de dizermos que é NOSSO. No entanto, a cada dia que passa desanimo e perco a fé no 'ser humano'. É errado dizer isto? Talvez. ELE (DEUS) nos fez, como muitos dizem, à sua imagem, mas se pararmos para pensar, não temos nada de DEUS e se tínhamos, o pouco que restou está se acabando.
Pode parecer neura, bobagem, julgamento irreal, revolta, dentre tantas outras terminologias, tudo o que vem acontecendo ao nosso redor, mas quem quiser pensar assim sinta-se à vontade. Pelo menos o livre arbítrio, ainda, ninguém conseguir nos tirar!



31 de dez. de 2011

Em movimento



Pulo quadrados para não estragar as linhas.





1 de nov. de 2011

Reticências



O final-de-ano começou oficialmente.
Vê-se pelas ruas, lojas, mercados...
Frenéticas caminhando de um lado ao outro procurando realizar mil tarefas diárias, com a cabeça na semana entre o Natal e o Ano Novo. Aquela folguinha para descansar, viajar, rever a família.  Planos que não passam de utopia, sendo o dia de apenas 24h, e esquecemos que entre uma atividade e outra temos que nos alimentar, nos locomover, nos produzir (cabelo, unha, depilação). Ah! Ainda antes dessas datas temos que comprar roupas, presentes, utensílios novos para casa. Há famílias que decidem reformar a casa também, mais uma para acrescentar às tarefas de final de ano. O ano vai acabar ou o mundo vai acabar? Desespero total e... Pronto, chegou o Natal! Incrível, mas a aflição não vai embora, e família que é família sempre tem aquela briguinha básica de lavação de roupa, o tal “arranca rabos”. Acho que é devido ao estresse, no auge.
Na verdade, eu entro naquela porcentagem das que não se iludem, não criam expectativas, já são tachados como estraga prazeres da família e desaparecem no ar próximos as datas comemorativas. Desde meus quatro anos de idade passo dias terríveis nos meus aniversários, almoços de Natal, viradas de ano.
Meus pais sempre disputando para que eu ficasse em um Estado ou noutro. Nem pra morarem na mesma cidade! E eu sempre feliz pela metade.  Até lembro-me do melhor/pior presente da minha vida. Eu já tinha treze anos e procurava a casa do meu tio, neutro nessa briga. Quando cheguei em casa depois do almoço de natal, haviam duas bicicletas, uma cecizinha cor-de-rosa, com cestinha e tudo mais, e outra montain bike (amarela com pneus resistente o suficiente para fazer trilhas na serra: ). Uma dada pelo meu pai e a outra por minha mãe.
E agora? pensei comigo, terei de escolher entre um e outro. Meu sonho tinha virado pesadelo.
Talvez por isso, agora fazendo essa catarse, pressionada pela proximidade da data, que eu conheci o paraíso, pego a minha mochila e vou para a ilha mais distante do litoral paranaense, Superagüi (3h30 a distância de Paranaguá).  Lá tenho uma família de coração e uma Noite de Natal bem distante do agito urbano.    
As bicicletas? Nunca tive coragem de me desfazer nem de uma nem outra, acabou que esses tempos emprestei uma pra uma prima e outra pro meu irmão, e fiquei sem as duas quase ao mesmo tempo.
E que janeiro venha logo para ver a cidade tranquila, os ônibus vazios, e aquele ar de renovação nas casas da vizinhança.  


12 de out. de 2011

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Cadeira vazia
Madeira fria


Carolina Sartor & Fagner Carniel